SÃO BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES


Nasceu S. Bartolomeu dos Mártires em Lisboa, a 3 de maio de 1514, com o nome familiar de Bartolomeu Fernandes. Bem cedo sentiu o chamamento de Deus a uma vida mais perfeita, nomeadamente quando, na ida para a escola, acompanhava o seu avô já cego para a missa na Igreja de Nossa Senhora dos Mártires.

Por isso mesmo, cedo o jovem Bartolomeu se deslocou ao convento de S. Domingos de Benfica, no dia de São Martinho de 1528, onde se viu confrontado com a oposição e as dúvidas do respetivo Prior, espantado com a vontade daquele adolescente em seguir a vida de austeridade própria da ordem dominicana. Deveria então preparar-se para: abstinência perpétua, jejuns prolongados, vigílias frequentes, grande pobreza no vestir, limitações no dormir, tudo propostas capazes e quebrar as naturezas mais robustas quanto mais a de um adolescente de 14 anos.

Perante esta desafiadora proposta, respondeu: "Padre, trabalhos busco e aborreço mimos; por fugir de mimos que me sobejam e provar trabalhos que desejo e sei que para a salvação me são necessários, busco a vida religiosa. Não temo esses, nem me assustam outros maiores, porque não há corpo fraco onde o coração é forte". E aqui se definia o seu verdadeiro programa de vida, um programa que o haveria de marcar até ao fim dos seus dias.

Veio, por isso, fazer a sua profissão dominicana no ano seguinte, a 20 de novembro, mantendo o nome de baptismo e acrescentando "do Vale" em memória do seu avô, que depois mudaria para "dos Mártires" por devoção à padroeira da sua paróquia de origem. Frei Bartolomeu dos Mártires distinguiu-se desde o princípio pela piedade e talento. A carreira dos estudos - que se estendeu de 1529 a 1537 - foi brilhante e os superiores distinguiram-no com a inscrição entre os alunos do colégio universitário que El-Rei D. Manuel fundara no convento de S. Domingos, sob o Patrocínio de São Tomás de Aquino.

Em setembro de 1537, passou o exame de Leitor de Artes e Teologia, ficando a lecionar Filosofia. Em 1540, passou ao Mosteiro da Batalha para reger essa mesma cátedra. Foi neste grande mosteiro que ele acabou de temperar a sua alma no saber profundo e virtude sólida. Por volta de 1542, Frei Bartolomeu passara da cátedra de Filosofia à Teologia, a qual absorveu o resto da sua longa vida de professor. Durante 14 anos consecutivos a Teologia foi a grande preocupação da sua alma. Em 1545, o Rei D. João III passou um alvará declarando as aulas de Frei Bartolomeu, dadas na Batalha, válidas para o grau da licenciatura em Teologia, como se tivessem sido dadas na universidade pública. Em 1551, em Salamanca foi receber o grau de Mestre em Teologia por entre elogios "suficiência de doutrina e destreza de engenho". Em 1552, foi para Évora a convite do Príncipe D. Luís, para ser o mestre de seu filho D. António, futuro Prior de Crato.

Homem notável pelas suas qualidades de espírito e de carácter, não faltou quem lembrasse à Rainha D. Catarina o nome de Frei Bartolomeu, então Prior do Convento de São Domingos de Benfica. Boa e bem aceite foi a sugestão dada por Frei Luís de Granada à Rainha. A dificuldade veio depois quando se tratou de levar a D. Frei Bartolomeu a conformar-se com ela. A obediência ao seu superior o fez ceder à eleição para tão alta responsabilidade e dignidade. Entrou na Arquidiocese Bracarense solenemente em Outubro de 1559.

Visitou mais que uma vez a sua vasta Arquidiocese que se estendia a Bragança e a Freixo de Espada à Cinta. Em Janeiro de 1560 percorreu como Pastor as terras do Barroso, Trás-os-Montes e Alto Minho, regressando no princípio da Quaresma. Encontrou muitas freguesias em lastimoso estado, pela falta de cultura do Clero e ignorância religiosa do povo, mandou traduzir para uso dos sacerdotes, a Suma dos Casos, do Cardeal Caetano, e ele próprio compôs, para os fiéis, um Catecismo da Doutrina Cristã, e um livro de Práticas Espirituais.

Participou, como Primaz das Espanhas, na fase conclusiva do Concílio de Trento (1562-1563), para onde partiu em 1561. Ia acompanhado apenas de um teólogo, do seu secretário, de um capelão e do mínimo de familiares. No Concílio distinguiu-se pelo saber e zelo da renovação da Igreja e edificou a todos pela santidade. A correspondência do Concílio chama-lhe «douto e religiosíssimo Prelado», «homem de grande santidade e religião» e S. Carlos Borromeu afirma que o tomou por exemplo a imitar.

Num dos intervalos das sessões conciliares, foi a Roma, onde se demorou 17 dias, em visita ao Papa, quer dizer em visita «ad sacra limina». Voltou para Trento para assistir ao encerramento dos trabalhos conciliares. Rejubilou com a feliz conclusão do Concílio, e, numa carta de despedida a S. Carlos, afirmou que «só falta empenharmo-nos com todas as forças para o aplicar».

Para levar a efeito, dignamente, a execução das disposições conciliares; reuniu um Sínodo diocesano, na sua Catedral, e depois um Concílio da sua Arquidiocese ou província eclesiástica. Tratou imediatamente da fundação do Seminário Conciliar, vencendo a oposição do cabido.

Este constituiu o seu programa pastoral realizado em Braga com zelo e constância heroicas, superando todas as dificuldades. S. Pio V em carta a D. Sebastião, referindo-se às contestações sofridas pelo Beato, declara-se muito penalizado e afirma que o Arcebispo «pela exímia santidade merecia ser amado e reverenciado». Ainda na linha da renovação da Arquidiocese de Braga, purificou o culto divino, dignificou e protegeu o clero, fundando, além do Seminário Conciliar, como já foi dito, outros centros de estudos teológico-pastorais, estimulou a educação e instrução da juventude, promoveu a assistência social, socorrendo viúvas e órfãos e distribuindo, liberalmente, pelos pobres quanto tinha, preferindo viver ele em extrema pobreza para ter mais que dar e matar assim a fome a mais necessitados como bem escreveu Fr. Luís de Sousa na sua Vida do Arcebispo.

Fundou o convento de S. Domingos, em Viana do Castelo, destinando-o a promover os estudos eclesiásticos daquela vasta zona da Arquidiocese.

No governo da Arquidiocese, Frei Bartolomeu dos Mártires revelou-se, como já insinuámos, um verdadeiro e extraordinário Pastor pelo seu amor à Igreja e caridade para com os pobres a quem socorreu por ocasião da peste de 1570.

Ocupava a Sé de Braga, quando faleceu D. Henrique, o Cardeal-Rei, cuja morte deixava em aberto o problema da sucessão ao trono de Portugal. Era-lhe grata certamente a candidatura de D. António, Prior do Crato, seu amigo e seu antigo aluno. Absteve-se, porém, de tomar partido, com certeza por não lhe ver possibilidade de êxito.

A Cidade de Braga amotinara-se em favor do Prior do Crato. Para não se ver envolvido em complicações de assuntos que não eram do seu múnus pastoral, retirou-se para Tuy (Galiza) onde adoeceu gravemente e só pôde voltar à Diocese quando já reinava D. Felipe com o título de Felipe I de Portugal e II de Espanha. De Tuy regressou à Diocese, voltando às visitas pastorais. Frei Bartolomeu, pouco depois, pediu a Felipe II, a renúncia ao Arcebispado, qual foi aceite. E, de Tomar, escreveu ao Papa Gregório XIII formulando semelhante pedido.

Estava em Viana, quando lhe anunciaram que e Papa nomeara novo Arcebispo para a Sé bracarense. Frei Bartolomeu dos Mártires recolheu-se imediatamente ao convento de S. Domingos de Viana, envelhecido e cansado. Ali veio a falecer, como apóstolo e santo, em 16 de Julho de 1590. À hora da morte os bracarenses pretenderam levar para Braga o seu corpo, mas os vianenses opuseram-se de armas na mão.

Em 1702 o Arcebispo D. João de Sousa mandou organizar o processo relativo à heroicidade das suas virtudes e aos milagres atribuídos à sua intercessão. Ficou concluído felizmente em 1845, pela promulgação do Decreto sabre a heroicidade das suas virtudes.

Foi beatificado por João Paulo II no dia 4 de Novembro de 2002. 

No dia 6 de julho de 2019 o Papa Francisco decretou o seu nome no rol dos Santos. 

A sua festa litúrgica celebra-se a 18 de Julho.